sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Quebrando a banca em Monte Carlo

Em 2010 fiz uma viagem muito legal com meus amigos Wright, FAXS e Lauda para a França e Espanha. Encontrei em uma caderneta um texto que escrevi relatando nossa experiência no cassino em Monte Carlo, no dia 15 de junho de 2010. Espero que você curta!

Enquanto dirigíamos de Nice a Monte Carlo, o  Wright tentava convencer a todos a decidirem o quanto apostariam em jogos no cassino. Ele dizia que apostaria 100 euros e convenceu o Lauda a apostar 50 euros. Tanto o FAXS quanto eu havíamos decidido que não iriamos apostar.

Chegando a Mônaco entramos naquele clima da cidade de sorte fácil e acabei decidindo no final das contas que apostaria 100 euros na roleta. Enquanto estávamos sentados à mesa de bar, pedi então que cada um de nós quatro pensasse em um número de 0 a 36 (os números da roleta). Eu pegaria a média dos quatro números e faria uma aposta no valor resultante.

A coincidência engraçada, que pode ser uma pequena pista para entender o mecanismo de funcionamento do cérebro humano, é que o FAXS, o Lauda e o Wright escolheram de forma completamente independente o número 18. E eu, próximo o bastante, escolhi o número 17.

Ficamos surpresos e conversamos sobre como, possivelmente, quando deparados com a necessidade de escolher um número dentro de um intervalo definido, a tendência natural é escolher um número situado bem na metade do intervalo.

A média de nossos números foi 17,75, então arredondei para 18 e disse que apostaria neste número chegando a Monte Carlo.

Minha ideia era usar a famigerada técnica de Martingale, de dobrar as apostas sempre que perdesse, indo de roleta a roleta e variando o número jogado. Eu acreditava que, se já tínhamos suspeitas de que em Bariloche o jogo era controlado, então o cassino de Montecarlo seria pior ainda.

Nossa chegada ao cassino se deu no meio de uma torrente de turistas, todos tentando tirar fotos próximos a qualquer pedaço de papel com as palavras "Casino Montecarlo" escritas.

À frente do cassino, em vagas reservadas, uma fila com todos os carros de luxo possivelmente imagináveis (ou imaginavelmente possíveis?) - Rolls Royce, Jaguar, Porsche, Mercedes, BMW, Ferrari - além de ricaços de meia idade gordinhos e carecas chegando com suas namoradas lindas (provavelmente modelos) de 20 anos.

Era cobrada uma taxa de 10 euros para entrar ao cassino, provavelmente para desencorajar a entrada muito frequente de pessoas que não desejassem jogar.

Peguei 100 euros emprestados com o Lauda, troquei por 20 fichas de 5 euros, separei-me dos três amigos e comecei a minha estratégia de jogo. Pensei em uma estratégia que me parecia um pouco menos arriscada do que a de Martingale. Quando eu perdia, eu apostava novamente apenas a quantidade suficiente para recuperar o dinheiro perdido, e não para ganhar o valor inicial da aposta.

Desta forma, fui ganhando umas e outras, porém de cinco em cinco euros consegui ir fazendo um pequeno lucro.

A cada dois ou três jogos, eu pegava uma ficha do lucro e jogava ou no 18 ou na quadra que englobava os números 17, 18, 20 e 21. Não ganhei quando apostava só no 18, porém ganhei duas vezes na quadra, o que me retornava 8 vezes o valor apostado (40 euros).

Uma situação desagradável ocorreu no momento em que ganhei a segunda quadra. Estava em uma mesa com bastante gente jogando. À minha frente, três garotas jovens com sotaque que imaginei ser de americanas (mas que mais tarde descobri ser de canadenses). Esse sotaquezinho irritante mesmo, daquelas patis de high school que sempre vemos em filmes de adolescentes americanos. Enfim, coloquei uma ficha na casa dos números pares e "sacrifiquei" minha ficha em uma quadra. Como havia várias quadras apostadas, eu apostei na 17, 18, 20 e 21.

O crupiê lançou a bolinha, esta girou loucamente pela roleta, as canadenses ficaram conversando alto e a bolinha caiu numa posição em que ganhei as duas apostas. Deve ter sido no número 20.

Quando há o pagamento de apostas "grandes" (com várias fichas), o crupiê pergunta de quem é cada ficha vencedora e, após o vencedor se identificar, o crupiê entrega o prêmio. Eu então me identifiquei como dono da ficha vencedora, feliz por ter ganho. Eis que escuto uma das meninas canadenses dizendo: "Acho que há um engano, fui eu quem apostou nessa quadra". As outras duas, como boas amigas e boas desonestas que são, disseram que tinham certeza que a amiga tinha jogado nesse número. O crupiê perguntou se eu tinha certeza que tinha jogado naquele número.

Então me veio um nervosismo: teria eu apostado na outra quadra? Eu não tinha certeza mesmo!

A situação ficou um pouco desagradável, pois a roleta ficou em um impasse. Ninguém poderia jogar enquanto a disputa não fosse resolvida e as três canadenses juravam de pés juntos que a ficha vencedora era delas. Eu já estava inseguro, e minha primeira vontade era dizer "Ok, a ficha é de vocês". Mas eu disse: "Eu acho que a ficha é minha". Passaram-se alguns minutos, os crupiês ficaram conversando descontraidamente enquanto um deles telefonava para a sala de câmeras para tirar a dúvida de quem tinha jogado naquela casa.

Mais espera. Eu já me sentia envergonhado, pensando em como seria minha reação caso acabasse descobrindo que de fato tinha sido a menina que apostou na quadra vencedora.

Finalmente, um dos crupiês voltou, dizendo que eu tinha feito a aposta. O outro crupiê me deu o prêmio e as canadenses pediram desculpas.

Quando me afastei da mesa, embora estivesse feliz pela vitória não pude deixar de pensar que eu quase fora vitima de algum tipo de bullying. Estas três meninas, aliando o fato de estarem em grupo ao fato de provavelmente serem umas patis nojentas de high school, não quiseram ter a postura de descobrir a verdade e quase me intimidaram a entregar o jogo. Em nenhum momento elas manifestaram dúvida. Em consequência disto, eu perdi a segurança em mim mesmo, passando por uma situação de constrangimento. Mas enfim, o importante é que resisti ao impulso de entregar o jogo e ganhei 40 euros, e elas só perderam 5 euros esta aposta (mais todas as outras que fizeram).

Depois de mais algumas apostas, tendo um total de 150 euros na mão, troquei de volta por dinheiro, devolvi 100 euros para o Lauda e fiquei com um lucro de 50 euros.

No final, descobri que o Lauda havia ganho 15 euros e o Wright perdido 100 euros. O FAXS entrou no cassino e não jogou. Então, no total o cassino ganhou 140 euros (incluindo as quatro entradas de 10 euros) e perdeu 65 euros, tendo um lucro de 75 euros sobre o nosso grupo.

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